quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O legado de Greg Moore (parte final)

A temporada de 1999 começou promissora para Greg, ao vencer em Homestead, sua quinta e última vitória. Ele liderou nas três primeiras corridas, porém a baixa competitividade dos Mercedes e os fracos resultados obtidos no restante das corridas novamente garantiram que ele não iria ser campeão. Agora, com a altíssima multa rescisória extinta, ele começou a procurar outras equipes. Então, no fim de semana da corrida de Houston, Greg anunciou que enfim tinha assinado para 2000 com uma das principais forças da Indy, a Penske. Infelizmente, Moore nunca cumpriu esse contrato.

Durante a última corrida do ano, no traiçoeiro oval de Fontana, o carro de Moore derrapou na saída da curva dois, a mais de 360 km/h, na décima volta, capotando várias vezes e chocou-se contra o muro de proteção, ficando despedaçado. Ele foi levado de helicóptero para o hospital Loma Linda de Los Angeles, com graves ferimentos na cabeça, onde morreu. Essa seria sua prova de despedida da Forsythe, após quatro temporadas.

Greg corria com um dedo fraturado por consequência do acidente sofrido na sexta-feira anterior. A motoneta que pilotava na área dos boxes foi atropelada por uma caminhonete, fraturando um dedo e mais 15 pontos na mão direita. Não pôde participar dos treinos de classificação, com a mão envolta num saco de gelo. Sua presença na prova estava ameaçada. Roberto Moreno foi chamado para substituí-lo. No fim foi liberado, após um teste de seis voltas na manhã de domingo. Ele largou na última posição no grid. Quando se acidentou, já era o décimo quinto.

Durante a entrevista coletiva após a corrida, os pilotos e dirigentes não disfarçavam a emoção pela perda de um dos mais queridos pilotos da Indy em sua história. Ninguém estava interessando com o resultado final da corrida, muito menos do campeonato, vencido pelo colombiano Juan Pablo Montoya, da Ganassi, com o quarto lugar em Fontana.

Nunca se soube a verdadeira razão do acidente. A hipótese mais aceita é que a curva 2 teria resíduos de graxa e óleo das corridas preliminares, provocando a tragédia. Os engenheiros da Forsythe, juntamente com os dirigentes da Cart, disseram que não havia relação alguma entre a fratura no dedo indicador da mão direita de Moore com o acidente. A telemetria do carro não acusara falha mecânica no Reynard Mercedes nos momentos anteriores a saída de pista.

Em sua homenagem a finada Champ Car instituiu em 2000 uma premiação intitulada Greg Moore Legacy Award (Prêmio Legado de Greg Moore), entregue para pilotos que se destacassem em ousadia e arrojo, características sempre atribuídas ao canadense.

Dedicado a Fabio "Hyder" Azevedo e ao Duhílio de Menezes.

Histórico do Piloto
1999 - Equipe Forsythe, 10º colocado, 1 vitória, 1 pole, 97 pontos.
1998 - Equipe Forsythe, 5º colocado, 2 vitórias, 4 poles, 141 pontos.
1997 - Equipe Forsythe, 7º colocado, 2 vitórias, 111 pontos.
1996 - Estréia na Fórmula Indy, equipe Forsythe, 9º colocado, 84 pontos.
1995 - Campeão da Indy Lights, 10 vitórias, 7 poles.
1994 - Indy Lights, 3º colocado, 3 vitórias, 2 poles.
1993 - Indy Lights, 9º colocado.
1992 - Campeão da Fórmula Ford 2000, 4 vitórias, 4 poles.
1991 - Fórmula Ford 1600, 4º colocado, 1 vitória, duas poles.
1990 - Campeão norte-americano de Kart.
1989 - Campeão norte-americano de Kart.
1985 - Começa a correr de Kart.

Estatísticas na Fórmula Indy (Cart)
GPs disputados: 72
Vitórias: 5
Pódios: 17
Poles: 5

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O legado de Greg Moore (parte 3)

Após outra excepcional temporada em 1998, onde ele demonstrou ser um dos poucos pilotos capazes de desafiar o italiano Alessandro Zanardi, principalmente na primeira metade do campeonato. No restante do ano seu desempenho foi prejudicado pela pouca competitividade do seu motor Mercedes. O motor alemão sofreu com falta de potência e durabilidade na maior parte do ano, prejudicando as chances de título de Greg. Além disso, ele se envolveu em alguns acidentes, o que lhe custou pontos preciosos na reta final da competição.

Seu grande momento correu na etapa do Brasil. Por 41 voltas, Moore e Zanardi travaram um duelo emocionante pela vitória, considerando um dos grandes momentos nos quase 100 anos de história da Indy. Quando faltavam cinco voltas para o fim, o canadense, utilizando-se da presença do retardatário Arnd Meier, tomou a primeira posição que era de Zanardi com um lance audacioso. Moore atrasou a freada em 15 ou 20 metros, enquanto Zanardi ficou em cerca de dez metros. Eles estavam a 335 km/h, rumaram para curva 1 com aproximadamente 180 km/h e Greg saiu na frente, mesmo estando no lado externo do traçado, cheio de detritos e com os pneus bem gastos. Surpreso, Zanardi travou as rodas, quase batendo com seu pneu dianteiro direito no traseiro esquerdo de Moore. Assim ele ruma para vitória sob aplausos fervorosos um público brasileiro em completo êxtase.

Outra conquista épica ocorreu em julho no oval de Michigan na corrida que foi considerada a melhor do campeonato, também lembrada pela morte de três pessoas em virtude de um pneu que se desprendeu em alta velocidade do carro do mexicano Adrian Fernandez. Greg superou por 0s259 a dupla da Ganassi formada por Zanardi e Jimmy Vasser usando a inteligência. Na penúltima volta, notou o efeito que o vácuo provocado por uma asa redutora de velocidade, que tinha sido tornada obrigatória nos superovais, facilitava as ultrapassagens, deixou Vasser passá-lo para dar o troco na volta decisiva. Funcionou. Moore veio mais embalado para a primeira curva, tomou a liderança, mantendo-se assim nas três curvas finais.

Não foi surpresa para ninguém que antes do fim da temporada a equipe Penske estava interessada em contratar Greg Moore no lugar de André Ribeiro. O brasileiro se mostrou um fiasco ainda maior do que o chassi PC 27, um projeto de John Travis, ex-Lola, que só se destacava pela beleza. Porém Gerald Forsythe, patrão de Greg, não aceitou nenhuma negociação, assegurou que o canadense ficasse em seu time por mais um ano.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O legado de Greg Moore (parte 2)

No ano seguinte, estreava na Fórmula Indy, usando o lendário número 99, o mesmo que usou na Indy Lights, e que virou sua marca registrada. As expectativas de ele ser o vencedor da premiação de Novato do Ano daquele campeonato. Mas não foi o que ocorreu. Moore foi ultrapassado por Alessandro Zanardi na pontuação, perdendo a disputa. Mesmo assim obteve bons resultados, incluindo dois pódios, terminando em nono lugar da classificação geral, com 84 pontos.

Seu excesso de arrojo o fez cometer muitos erros ao longo do ano, estando sempre envolvido em algum acidente, e assim colecionava desafetos entre os pilotos, principalmente entre os brasileiros. O desprezo entre os nossos compatriotas tinha uma boa justificativa: o acidente com Émerson Fittipaldi nas 500 milhas de Michigan. Na largada o canadense forçou uma ultrapassagem sobre Fittipaldi e acabou tocando no Penske do brasileiro, que se chocou violentamente contra o muro do oval. Hospitalizado, Emerson por pouco não ficou paralítico e nunca mais voltou a correr na Indy. A partir de então Greg era acusado de ser o culpado pelo ocorrido.

Uma corrida depois, em Mid-Ohio, mais confusão. Moore prejudicou André Ribeiro, tirando-o da pista na última volta. Na reunião de pilotos, os dois quase se agrediram. Moore só se calou quando Christian Fittipaldi, que depois se tornou um grande amigo do piloto, entrou no bate-boca: "Depois de quase ter aleijado meu tio, é melhor você ficar quietinho...". As críticas mexeram com o jovem piloto, na época com 21 anos, que prometeu amadurecer seu comportamento nas pistas.

Ele cumpriu a risca esse objetivo ao vencer sua primeira corrida no oval de Milwaukee em 1997, aos 22 anos, 1 mês e 10 dias, tornando-se o mais jovem a ganhar uma corrida na Indy até então. Na prova seguinte, nas ruas de Detroit, vence na última volta, graças à pane seca nos carros de Maurício Gugelmin e Mark Blundell, pilotos da PacWest. Termina o ano em sétimo lugar na classificação, com 111 pontos. Greg continuava ousado, porém aprendera a controlar seus impulsos, e os acidentes bizarros ficaram no passado. Então todas as grandes equipes querem tê-lo como piloto.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O legado de Greg Moore (parte 1)

Gregory William Moore nasceu em 22 de abril de 1975 em New Westminster, na província de British Columbia, no Canadá. Quando pequeno ele sonhava em imitar seu ídolo Ayrton Senna e ser uma grande estrela do automobilismo. Ao dar seus primeiros passos nas competições de kart aos 10 anos de idade, sua tenacidade e amor pelo esporte chamaram a atenção das maiores equipes dos Estados Unidos dessa modalidade.

Foi nesse país que ele desenvolveu a sua breve, mas espetacular carreira. Entre 1989 e 1990 foi bicampeão norte-americano de Kart. Em 1991, aos 15 anos, ingressou na Fórmula Ford 1600 sendo o quarto colocado e conquistando uma vitória e duas poles, levando o prêmio de Novato do Ano. Em 1992 transferiu-se para a Fórmula Ford 2000, onde foi campeão com quatro vitórias e quatro poles, e novamente escolhido como o Novato do Ano.

Com apenas 17 anos, Moore ruma para a Fórmula Indy Lights em 1993. Por conta dos reduzidos recursos financeiros, que não possibilitavam o ingresso nas equipes mais estruturadas, foi obrigado a correr com o apoio de sua família, sendo criada assim a Greg Moore Motortsports. Em sua corrida de estréia no oval de Phoenix, Moore chamada a atenção de dirigentes e da mídia especializada a chegar em quinto, após largar em sétimo. Um grande feito para um piloto inexperiente. Terminou o campeonato na nona posição.

Greg continuou sua ascensão na Indy Lights em 1994. Venceu a primeira etapa, em Phoenix, tornando-se, aos 18 anos, no piloto mais jovem a ganhar uma corrida em um campeonato administrado pela Cart. Foram 3 vitórias, 2 poles, além de ser o piloto que liderou no maior número de voltas com 186 no total. E surpreendentemente esses feitos foram conquistados ainda contando somente com a precária estrutura da Greg Moore Motortsports.

Finalmente, Greg consegue um contrato com uma equipe promissora e organizada para 1995, no caso a Forsythe, que naquele ano voltava a disputar a Fórmula Indy com um esquema próprio após dez anos, e que aderiu a Indy Lights, tendo como patrocinador os cigarros Player's, empresa que na época envolvida com a Forsythe em outras categorias de acesso estadunidenses.

Afinal, Moore é campeão com enorme vantagem sobre o vice, o norte-americano Robbie Buhl, que já havia disputado 12 GPs na Fórmula Indy. Greg obteve 242 pontos enquanto Buhl 140 (incríveis 102 pontos de distância). Largou sete vezes na pole position e venceu dez das doze etapas disputadas, recorde de vitórias na categoria, sendo cinco consecutivas (Miami, Phoenix, Long Beach, Nazareth e Milwaukee).