segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Coluna do Hyder - Fabio "Hyder" Azevedo

Dez anos de nostalgia

Olá pessoal. Muita coisa ocorreu neste intervalo de tempo desde quando escrevia constantemente para o site Champ Car Brasil. Desde então, ando ocupado, executando projetos profissionais e pessoais. A coluna de estréia no blog vai tratar de fatos esportivos marcantes para mim, corridos a partir do final da década de 1990, período vitorioso, que em minha mente, é como se tivessem ocorrido ontem.

Nesses últimos dez anos, o Brasil (e principalmente o Rio de Janeiro) conseguiu realizar os Jogos Pan-americanos de 2007, conquistou o direito de organizar novamente a Copa do Mundo de Futebol de 2014, além de ser o primeiro país sul-americano a promover os Jogos Olímpicos em 2016.

A Nação elevou seus indicadores sociais e econômicos, principalmente após a eleição de um ex-operário ao principal cargo diretivo brasileiro. Apesar da fase de incerteza e desemprego em diversas empresas e nações, consequência da crise com o mercado imobiliário nos Estados Unidos, nestes últimos meses, o Brasil se destacar, sendo uma das economias menos afetadas. Infelizmente, o automobilismo, foi uma das áreas mais afetadas pela crise de crédito.

Mesmo voltando a termos representantes de peso na Fórmula 1 e conquistamos o topo do automobilismo de monoposto norte-americano, tivemos o desaparecimento da Cart (Championship Auto Racing Teams), antiga promotora da Fórmula Indy, juntamente com o sumiço de equipes tradicionais, a aposentadoria de alguns pilotos e outros que voltaram a vencer depois de um longo jejum. Alguns pilotos e dirigentes, infelizmente, não estão mais entre nós. Como é o caso do Gonzalo Rodríguez, Walter Payton, Carl Hogan, Paul Newman e o saudoso Greg Moore.

Tive a oportunidade de conhecer essa gente quando trabalhava com o automobilismo e motovelocidade durante as provas que ocorriam no então ativo circuito de Jacarepaguá. Acompanhei os títulos de Alex Criville, Kenny Roberts e Valentino Rossi, assim como também presenciei uma vitória magnífica do inesquecível japonês voador Norick Abe, em 1999. O hoje condenado Autódromo Internacional Nélson Piquet sediou momentos marcantes para o esporte brasileiro e internacional e por sorte, estive presente na maioria deles.

A Cidade Maravilhosa, graças a algumas "orelhadas" do César Maia, perdeu os grandes eventos (Fórmula Indy e MotoGP). Não foi um ato isolado. Outras praças automobilísticas nacionais também sofreram com o descaso e a incompetência de políticos locais ao longo dos anos. Um grande exemplo é o autódromo de Goiânia, que não possui asfalto decente desde 1998. Ironicamente, a dupla de políticos, que antes estavam unidos na destruição de Jacarepaguá, e estão agora aparentemente rompidos levantaram a voz, incentivando a construção de uma nova pista em Deodoro - que confesso não acreditar muito que saia do papel. Falo do César Maia e de Alfredo Sirkis.

Confesso que a saudosa Fórmula Indy (Cart, ChampCar World Series ou mesmo PPG-IndyCar World Series) foi a categoria que trouxe mais alegria para este colunista. Daquela turma com quem eu convivi, gostaria de relembrar passagens de dois sujeitos especiais: do Greg e não menos importante, do Gil de Ferran.

No dia 31 de outubro de 1999, Greg Moore nos deixou naquele acidente horroroso em Fontana. A tarde prometia ser festiva, graças à batalha pelo título travada entre o colombiano Juan Pablo Montoya, da Ganassi, e o escocês Dario Franchitti, da Green. Adrian Fernandez estava pilotando muito bem naquele final de semana com seu Reynard Cosworth da equipe Patrick e outro destaque era o brasileiro Christian Fittipaldi, que sempre guiava seu Swift Ford da Newman Haas com cautela e estratégia nos super ovais, para dar o bote nas voltas finais.

O duelo ficou conhecido como a “Batalha de Fontana” já que a Cart, por intermédio do seu departamento de marketing promoveu essa prova como um autêntico confronto de gigantes, numa temporada maravilhosa, onde nada menos que nove pilotos venceram corridas. Entretanto, isso deixou de ter significado quando Greg saiu da pista a cerca de 360 km/h, na 10ª volta, capotando diversas vezes e batendo contra a rede de proteção, destruindo completamente o monoposto.

Tínhamos quase a mesma idade (ele era alguns meses mais velho e nasceu no mesmo dia que minha mãe) e recordo que uma de nossas últimas conversas foi no final de sua participação na Rio 200 em 1999. O perguntei sobre a dificuldade de guiar o Reynard Mercedes da Forsythe e se os rumores que o colocavam na Penske para 2000 procediam. Sobre seu carro, ele respondeu com um resmungo, demonstrando insatisfação. Para o segundo questionamento ele somente riu, fazendo mistério.

Algumas semanas se passaram e finalmente fui saber da verdade, e escrevi na época que seria espetacular trabalhar junto com ele. Algum tempo depois, falei com ele pela última vez, desejando-lhe sorte na etapa de Surfer's Paradise. Semanas antes, ocorreu a apresentação dele como piloto da Penske no Firebird International Raceway. Infelizmente o destino dele já estava escrito.

Naquele fim de ano, tanto Greg quanto o Gil de Ferran estavam apenas cumprindo os contratos em suas antigas equipes, cientes que não dispunham de equipamento para brigar em igualdade com os carros da Green e Ganassi. Nos treinos de sexta-feira em Fontana, ele fraturou um dedo ficou com 15 pontos na mão direita ao se acidentar na área do pit lane ao ser atropelado por uma caminhonete. Ameaçado de não correr, Roberto Moreno foi chamado para substituí-lo. Porém os anos passados ao lado dos amigos do time de Gerry Forsythe e a gratidão à Player´s (tradicional tabagista que o patrocinou durante anos) o fizeram correr no sacrifício, para se despedir de sua antiga casa com uma grande atuação. Então ele se tornou mais um talento a desaparecer precocemente.

Passada essa década, ainda não surgiu nas pistas norte-americanas alguém com o talento de Greg Moore. Atualmente a Indy passa por um período com pilotos sofrendo de uma deficiência técnica muito grande, não sendo um ambiente para desenvolvimento pilotos de ponta, situação agravada pelo pacote técnico da categoria, que não oferece mais oportunidades de evolução para os pilotos. Antes, as equipes da antiga Cart trocavam de carro todos os anos, sempre com grandes evoluções tecnológicas, além de uma diversidade e pistas que proporcionavam os desafios ideais para se evoluir o equipamento e a pilotagem.

Greg nos deixou, sendo duro para a comunidade Cart manter a motivação para o começo da temporada seguinte. Lembro que naquele ano de 2000, meu último ano na categoria, perguntei ao Tony Kanaan e para o italiano Massimiliano Papis como eles estavam se sentindo em relação ao que tinha ocorrido ao Greg e mesmo tendo se passado alguns meses da tragédia, eles não disfarçavam a tristeza de não mais encontrar o carro 99 no grid. Como disse o Max Papis naquela ocasião: "parece que foi ontem." Dizer que o canadense era popular no paddock beira a redundância. A Fundação Greg Moore encerrou as atividades em 2004, por falta de recursos, mas esse fato não impediu os pais do piloto de continuem com as ações de caridade, mesmo com o fim da entidade assistencial.

Sobre o Gil de Ferran, confesso que num primeiro momento não gostei muito dele. O achava um mauricinho, até meio mala, talvez por pertencer a uma equipe tradicional, mas sem vibração como era a Walker. Eu gostava de dizer, em tom de deboche, que os integrantes da Walker, lembravam a turma da Williams na Fórmula 1. Mudar para a Penske fez um bem danado para o franco-brasileiro.

Seu astral mudou para melhor, porém o que me chamou a atenção era o seu tremendo comprometimento com a causa Penske. Normalmente após os treinos, grande parte dos pilotos ficava um breve período no autódromo e depois rumavam para os hotéis ou aos eventos dos patrocinadores. O Gil procedia de maneira bem distinta da maioria. Quando acabavam os treinos na pista, ele ficava várias horas em reunião com os engenheiros, sempre buscando melhores acertos mecânicos e aerodinâmicos. Quis saber dele certa vez qual era a sensação de correr pela Penske. Ele me disse que é a mesma coisa de ser piloto da Ferrari na Fórmula 1. Concordei imediatamente com ele e ria por dentro ao perceber que aquele sujeito aparentemente fechado era na verdade um cara afável.

Os anos na Walker foram difíceis e o vice-campeonato de 1997 mascarou os problemas internos e as deficiências do carro. Depois que o Gil deixou a equipe do Derrik Walker, em 1999, o time entrou em decadência. Quatro anos depois, Gil encerraria sua trajetória na Penske com dois campeonatos da Fórmula Indy (versão Cart) e a conquista história de Indianápolis em 2003, sua temporada de despedida da Indy, ciclo encerrado com a vitória na última prova daquele ano, no oval do Texas.

Ele estava compromissado com o Eddie Jordan para guiar em seu time de Fórmula 1 em 2004, na sua segunda tentativa de disputar a principal categoria do automobilismo. Antes, seu mentor e amigo Jackie Stewart o convidou para ser seu primeiro piloto na Stewart Grand Prix F1 Team, vaga que acabou ficando com Rubens Barrichello. Então, no começo de 2004, Tony Renna, recém contratado pela Ganassi, espatifou seu carro num treino privado em Indianápolis, morrendo instantaneamente.

Quando soube do acidente, Roger Penske ligou imediatamente para Gil e lhe pediu para que desistisse desta empreitada (a Fórmula 1), pois ele não precisava provar nada para ninguém, e que era herói, um ídolo consagrado. Esse aconselhamento de um velho amigo, juntamente com a pressão da família, fizeram o campeão resolveu não seguir adiante com o projeto.

Devido à parceria existente desde 1996, Ferran tornou-se em 2005 o diretor esportivo do projeto Honda F1 na extinta equipe BAR e depois quando o time passou a ter o nome da montadora japonesa. Mesmo se esforçando ao máximo, usando sua experiência nas pistas mais seus famosos conhecimentos técnicos, ele percebeu que tinha entrado em uma enrascada e preferiu sair em 2007. Antes disso, Nick Fry, o diretor-geral da Honda, procurou de todas as maneiras, desgastar a imagem do brasileiro perante a cúpula da organização, a ponto de Gil pedir desistir de um cargo quase milionário.

Gil voltou aos Estados Unidos e, com o apoio da montadora japonesa, montou uma operação na ALMS – American LeMan Series – e, como de costume, tornou-se vencedor. E ainda salvou a carreira de Simon Pagenoud que estava esquecido depois falência da Champ Car World Series. Nesse ano, em Laguna Seca, ele fez sua despedida definitiva das pistas no lugar onde venceu pela primeira vez na Cart. E apesar de ser o grande homenageado daquele final de semana, fez questão de prestar as honras a um dos seus grandes ídolos - e também do automobilismo dos Estados Unidos - e grande amigo, Jim Hall, criador do lendário chassi Chaparral.

Aguarda-se para breve o anúncio oficial da entrada de sua equipe na Indy para o próximo ano. Espero que ele tenha sucesso como dirigente como teve como piloto. Infelizmente Gil não levou o campeonato na despedida do time na ALMS, mas sendo sincero, quem vão lembrar-se daqui a alguns anos da dupla composta por David Brabham e Scott Sharp? Os parceiros Gil de Ferran e Simon Pagenaud foi o grande destaque última etapa da temporada, mesmo não sendo capaz de bater a dupla campeã do campeonato 2009 na tabela de classificação.

Quis dar o devido destaque esses dois grandes pilotos já que, há 10 anos, haviam sido anunciados como companheiros de equipe. Com todo respeito e deferência aos heróis mais antigos - Rick Mears, Emerson Fittipaldi, Al Unser pai e o Júnior - Gil e Greg teriam formado uma dupla praticamente imbatível, páreo duríssimo para a concorrência.

Mas a realidade se mostrou diferente, e não poderia imagina que hoje estaria eu escrevendo sobre alguns fatos tristes, mas não são muitos felizmente. Porém, as adversidades não devem ser o enfoque da nossa vida – e sim os momentos de jubilo e alegria, não somente no esporte a motor, mas todos os dias, encarando as dificuldades com alegria e esperança.

Um grande abraço e fiquem com Deus.

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