terça-feira, 11 de maio de 2010

Coluna do Hyder - Fabio "Hyder" Azevedo

Reencontro no Velopark

Estamos no mês de maio e os preparativos para a corrida mais clássica do automobilismo mundial, as 500 milhas de Indianápolis, estão a todo vapor. Uma prova onde os pilotos são expostos a altíssimas velocidades por mais três horas. Desta vez, ao invés de celebramos os campeões que todos conhecem, no qual podemos apreciar suas histórias em diversos sites, inclusive neste champcarbrasil.blogspot.com, gostaria de falar sobre um piloto que em sua estréia em Indianápolis, fez uma corrida marcante, chegando em segundo lugar, e caso tivéssemos mais algumas voltas ele teria vencido.

Era 1995. A equipe, a Walker, o piloto, Christian Fittipaldi. Com três temporadas na Fórmula 1, sempre defendendo equipes pequenas, Christian decidiu dar novos rumos a sua carreia, e segundos suas palavras, foi a decisão acertada. Foi bom descobrir que o automobilismo não se resumia as politicagens e aos jogos de interesse europeus. Na América ele era feliz e não demorou a fazer amigos entre os pilotos além do que poderia vencer mesmo não estando numa das principais equipes da Fórmula Indy.

Na sua primeira temporada ele não estava entre as prioridades da Walker, totalmente concentrada na estrela emergente Robby Gordon, piloto habilidoso que contava com um orçamento maior, detinha um bom salário e com e com muito mais experiência nos ovais que o jovem brasileiro de 24 anos. Seu carro e sua estrutura de mecânicos e engenheiro foram montados de acordo com os patrocínios que havia trazido do Brasil. O sobrenome famoso ajudou neste ponto, entretanto já tinha um histórico dentro das pistas o ajudou bastante.

Foi em Indianápolis, 28 de maio, que os norte-americanos apreciaram o que os europeus não puderam ver. Sem nunca ter tido uma oportunidade para demonstrar sua capacidade na Fórmula 1, por correr nas limitadas Minardi e Arrows, Christian já brilhava em suas primeiras aparições na Cart. Ele surpreendeu os especialistas ao aliar um estilo brilhantemente estrategista e cerebral na maior corrida estadunidense, fugindo de confusões, fazendo com que seu Reynard Ford XB andasse nas últimas voltas na mesma toada do líder Jacques Villeneuve, da extinta Forsythe Green que utilizava o mesmo equipamento, porém com mais desenvolvimento. No fim o canadense, que também seria o campeão da temporada, conquistou com todos os méritos a corrida.

Mais tarde, Villeneuve confessou que se tivessem mais algumas voltas teria sido impossível segurar Christian, que vinha num ritmo alucinado. Os membros da Walker, seus patrocinadores e os brasileiros ficaram muito orgulhosos, pois mesmo não ganhando, lutou muito contra um carro ruim, fazendo-o com garra e determinação. Numa transmissão mais uma vez brilhante do SBT Téo José colocou ao vivo, para todo o Brasil, Emerson Fittipaldi, direto da cabine da TV, conversando com Christian a bordo de seu carro... Algo inesquecível.

Essa edição também foi aquela em que a Penske, utilizando chassis emprestados por Bobby Rahal com motores Mercedes, não classificou Al Unser Jr. e Emerson Fittipaldi, logo eles, vendedores das duas corridas anteriores. Roger Penske assumiu para si, cabisbaixo, a responsabilidade daquele enorme fracasso. A equipe só retornaria ao Indianapolis Motor Speedway em 2001, em virtude da guerra Cart x IRL.

Os críticos falam do Christian sem saber das enormes dificuldades e pressões a que foi submetido em sua carreira. Eu o conheço a mais de 12 anos e acompanhei de perto alguns desses momentos. É um sujeito brincalhão, simpático e atencioso sendo um dos melhores seres humanos que tive o prazer de conhecer nesse meio. Reencontrei esse velho amigo, após alguns anos, pela primeira vez desde que me mudei para o sul do Brasil, em virtude da etapa gaúcha da Stock Car, disputada no Velopark, onde estive como seu convidado.

Durante os treinos ele estava com o semblante fechado e compenetrado buscando os ajustes do seu carro. Com o fim das atividades, apareceu um sorrido no seu rosto, de um sujeito que vive um grande momento em sua vida pessoal, depois de passar por situações ruins. Quando estamos bem com nós mesmos, certas coisas que nos aborreciam antes deixam de influenciar negativamente. Não é um péssimo resultado que nos fará melhores ou piores que os demais.

Nas temporadas seguintes na Indy, ele não brilhou como merecia, cometeu alguns erros de avaliação, entretanto nunca se deixou abater por isso. Correr em Fontana e Michigan, a mais de 400 km/h, com diversos parafusos e pinos nas pernas, não é uma sensação das mais confortáveis. Utilizar um equipamento inferior – como era o chassi Swift – e ser taxado como péssimo piloto era duro de escutar. Guardo uma admiração profunda por esse paulistano nascido em 18 de janeiro de 1971. Por ele e sua maravilhosa família. Pena que a nunca tenha corrido na Penske como seu tio Emerson - exceto no famoso Goodwood Festival of Speed.

Conversando com ele percebi que seus objetivos de vida mudaram. Agora ele encara o automobilismo de maneira diferente, longe de ser sua prioridade. Mesmo ainda sendo um grande profissional da velocidade, notadamente nos protótipos e carros de turismo, hoje consegue curtir muito mais as corridas do que antigamente. Nisso ficamos parecidos, pois há tempos deixei as corridas de lado, e como o Christian, eu estou muito mais feliz com minha nova vida.

Um grande abraço e fiquem com Deus.

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